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Vacina brasileira concorre a prêmio internacional

Uma revolução. Assim pode ser considerada a mais recente pesquisa realizada por professores da Universidade Federal de Minas Gerais. Eles produziram a Calixcoca – para tratamento de dependência em cocaína e crack – e   estão entre os finalistas do Prêmio Euro Inovação na Saúde, que reconhece importantes inovações da área médica, incentivando o desenvolvimento de soluções.

Desenvolvida pelo professor Frederico Duarte Garcia, o imunizante já passou pela fase de testes pré-clínicos com ratos, que produziram anticorpos contra a cocaína. Nos testes feitos em animais, os anticorpos da Calixcoca impediram, por uma molécula sintética, que a droga fosse levada do sangue para o sistema nervoso central.

Ação no cérebro

A cocaína, assim como o crack, age estimulando os neurônios que produzem dopamina. Temos um circuito de recompensa no cérebro, ativado toda vez que fazemos uma coisa boa: sexo ou comer, por exemplo. O uso da droga, de forma artificial, promove um aumento rápido da produção de dopamina, o que causa uma euforia. É o que explica a médica clínica e epidemiologista Ana Sodré. “Depois que esses neurônios se saturam, o efeito da droga acaba e passa para o efeito rebote. A pessoa vai da euforia à sensação absurda de depressão. É o pico e o vale. Isso vai causando cada vez mais dependência de efeitos maiores, porque os neurônios vão sendo saturados”, destaca a especialista.

Ela ressalta ainda que, teoricamente, toda imunização é válida porque a vacina faz com que o corpo seja induzido a produzir anticorpos que se ligam aos antígenos, causadores de doenças. Mas Sodré alerta que, como toda produção de vacina, o trabalho “precisa de uma metodologia e supervisão”:

“Esses efeitos precisam ser considerados a longo prazo, principalmente em se tratando de uso de drogas de efeito intenso, como a cocaína e o crack”.

Para a médica, os efeitos da cocaína, a longo prazo, são o de destruir a parte cerebral humana. “O ser humano vai perdendo a sua personalidade, que vai ficando deformada. Exceto se tenha um tratamento. Tratar um dependente é bem mais difícil que começar e impedir o uso. A melhor maneira de impedir danos é impedir o uso”, aponta.

Redução de danos

Na mesma linha da epidemiologista Ana Sodré, o toxicologista e professor da Universidade Estadual de Londrina (PR) Tiago Peixe destaca que seria de fato possível que uma vacina bloqueie a vontade do usuário consumir cocaína e crack. Isso porque, de forma indireta, não haveria a presença da substância em si, mas de algo parecido, que “seria reconhecido, enganando o sistema; mas sem a chamada atividade inerente à substância química do crack ou da cocaína”.

O professor acrescenta ainda que, aqui no Brasil, enquanto a vacina não é plenamente aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, há a possibilidade de se reduzir danos:

“Alguns países têm realizado programas de redução de danos, em que os usuários utilizam as substâncias, de modo acompanhado, clínica, laboratorialmente e pelas autoridades. Segundo relatos, há redução de até 30% a 40% nas frequências de uso. Medidas não farmacológicas, como cuidado, atividades psicossociais, além de familiares, podem contribuir para a diminuição de uso”.

Prêmio Euro Inovação na Saúde

Para participar da eleição do prêmio, é preciso ser médico e ter registro profissional nos países em que a patrocinadora da premiação tem negócios. São eles: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai, Peru, Equador, México, Colômbia, Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Panamá, Costa Rica, Honduras ou República Dominicana.

A votação vai até 28 de junho. O valor total do prêmio é de 1,05 milhão de euros, equivalente a R$ 5,4 milhões. O valor será dividido entre 12 categorias participantes.

Os professores – que buscam recursos para realizar testes em humanos – afirmam que, se ganharem o prêmio, vão investir os valores em novas.

Fonte: ATRIBUNA

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